Crítica reportagem//Eros Impuro


A peça Eros Impuro, do diretor Sérgio Maggio, encenada pelo ator J. Abreu desperta inquietações sobre o limite entre o erotismo e a arte. O personagem do monólogo é um pintor a beira da loucura, pois produz uma arte amoral e é interpretado a partir do ponto de vista moral das pessoas. O cenário completamente branco e sem muitos elementos sugere um quarto de manicômio. “Um dos objetivos da gente é deixar a dúvida se isso tudo não é um delírio dele”, conta Maggio. Segundo Carlos Chapéu, responsável pela cenografia da montagem, o branco passa a ideia de uma mente humana infantil, em que “as imagens e as histórias ainda estão em branco e cada um tende a completar do seu jeito”.
No final da montagem o ator “contracena” com uma rotoscopia projetada num telão. Esse é o momento de maior dúvida quanto à sanidade do personagem: o espectador não sabe se aquilo realmente está acontecendo ou se são apenas memórias, já que ele conta momentos traumáticos da sua infância. Durante a peça são exibidos quadros com a temática erótica e alguns vídeos pornográficos no telão. Mesmo com algumas imagens fortes, as projeções ficam em segundo plano devido à interpretação envolvente de J. Abreu.
A discussão quanto à ética na arte também é bastante recorrente. Em uma sessão aberta para arte-educadores e estudantes de artes cênicas diretor e ator discutiram os temas sugeridos pelo monólogo. Maggio diz que para ele “a arte não tem de ter moral, ela tem que ter uma ética”, por isso, o diretor se sente a vontade para tratar temas polêmicos como traição, homossexualidade e pedofilia sem abrir mão da ética.
A peça propositalmente deixa muitas dúvidas, com a intenção de despertar discussões. Maggio explica que “a peça discute a pedofilia, mas não de forma direta, porque eu não queria que ela ficasse em primeiro plano. Queria que não ficasse claro, mas eu queria que a questão do abuso sexual entrasse” e Abreu acrescenta que “pode acontecer de todo mundo sair calado ou de todo mundo sair discutindo sobre o que foi que aconteceu”.
O tema tratado na obra de Maggio não é muito presente no teatro brasileiro por ser ainda difícil de ser abordado. Para o ator J. Abreu “o erótico pode ser o que sugere, o pornográfico é o explícito”. Assim, qualquer insinuação pode ser interpretada como imprópria já que, como disse Abreu, “o impuro está na cabeça do homem”. O projeto tem auxílio do Fundo de Apoio a Cultura (FAC) e estará em cartaz no Teatro Goldoni, na Casa d’Itália até o dia 22 de maio.
Eros Impuro
O que: ator J. Abreu discute a relação entre arte e erotismo em monólogo
Quando: de quinta à sábado às 21h e domingo às 20h
Onde: Teatro Goldoni - Casa d’Italia EQS 208/209 (entrada pelo eixo L)
Preço: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: (61) 3443-0606
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