Um dos projetos contemplados com o edital
Cultura 2014, do MinC, espetáculo leva a discussão sobre abuso sexual para a
cidade-sede de Natal durante o maior torneio mundial de futebol
A
montagem Eros Impuro realiza oito
sessões na Casa da Ribeira (Rua Frei
Miguelinho, 52, Ribeira) nos dias 20, 21, 25 e 26 de junho de 2014 (às 20h30) e
22 e 27 de junho de 2014 (às 18h30 e às 20h30). A entrada é franca e, após as oito sessões, haverá o painel de debate A arte diz não ao abuso sexual contra
crianças e adolescentes. Nascido em Brasília em abril de 2011, o
espetáculo é um dos projetos contemplados pelo Ministério da Cultura por meio
do edital Cultura 2014, que põe em circulação, nas cidades-sedes do torneio
mundial de futebol, um mosaico de bens culturais brasileiros. “É muito importante essa oportunidade
que o Brasil está tendo de mostrar a sua diversidade cultural. Não que seja
ruim ter samba, ter futebol e ter carnaval. Tudo é ótimo. Agora, o que nós
temos além, que é a nossa literatura, o nosso teatro, a nossa música, tanta
coisa linda, a gente quer que todos possam ver”, declarou a ministra da
Cultura, Marta Suplicy, ao programa Voz
do Brasil, do dia 28 de maio.
A
peça do coletivo Criaturas Alaranjadas Cia. de Teatro (que acabou de estrear no
CCBB Brasília o musical Eu vou tirar você
desse lugar – As canções de Odair José) discute um tema urgente à
sociedade: o abuso sexual contra menores. Em 2013, o espetáculo circulou por
oito capitais, fez 53 sessões e foi visto por mais de 2,5 mil espectadores. Com
estreia em abril de 2011, já esteve em festivais em Brasília. Vitória, Goiânia
e Recife, além de turnês em Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Belém,
Fortaleza, João Pessoa, São Luis e São Paulo, onde fez temporada de 25 sessões
com êxito de crítica. A chegada a Natal é comemorada pelo grupo. “A capital
potiguar tem uma tradição teatral que nos interessa ao mesmo tempo em que o
tema da peça afeta diretamente a cidade”, observa o diretor-dramaturgo Sérgio
Maggio. “É importante que o teatro proponha um debate. Está em sua natureza”,
completa o ator Jones de Abreu. Na cidade, eles pretendem distribuir 10 mil
unidades de cartilha de prevenção ao abuso, especialmente confeccionadas para a
ocasião. “Precisamos aproveitar essa visibilidade e a vinda de turistas de
todos os cantos”, destaca Jones. Eros
Impuro completa 100 sessões na temporada em Natal.
Inspirada
também nos limites da arte erótica e no caos da criação artística, que envolve
sanidade e loucura, a montagem Eros
Impuro é fruto da fruição artística do diretor-dramaturgo Sérgio Maggio,
que teve a ideia da obra depois da experiência criativa de observar uma tela do
ator, artista plástico e protagonista da peça Jones de Abreu. A partir do
quadro - que pontua como um gesto cotidiano pode incitar um pensamento erótico
-, o roteiro foi criado propondo um questionamento sobre as sequelas do abuso
sexual.
Vítima
de abuso sexual, o personagem Andrei busca se livrar da angústia que o persegue
por meio da arte. O artista plástico acredita que encontrará sua redenção
quando conseguir reproduzir na tela a mesma energia sentida no momento do ato
de violência. Como os modelos vivos usados por Andrei são garotos de programa,
sua obra é vista como pornográfica,
suja. O pintor é julgado e marginalizado pela sociedade conservadora, que tem
dificuldade em lidar com o erótico, e ele é obrigado a seguir sua carreira sem
acesso a galerias e acuado em seu processo obsessivo de criação.
Sobre a montagem
Para
criação da personagem Andrei, no processo de laboratório para viver o pintor, o
ator Jones de Abreu visitou um hospital psiquiátrico em Brasília. Conversou com
pacientes vítimas de abuso sexual, “algumas de sexualidade muito aflorada”, e
que, portanto, são censurados pela sociedade. De sua visita à clínica, Jones
tirou muitas características de seu personagem – principalmente de uma mulher
que desenvolveu neuroses por ter sido vítima de violência sexual cometida,
quando era criança, pela mãe.
De
acordo com Sergio Maggio, a encenação foi criada de forma compartilhada na sala
de ensaio, “para que os artistas cênicos - iluminador, cenógrafo, trilheiro -
criticassem e se inspirassem. Assim, o texto foi contaminado nesse processo de
desconstrução”. O método de criação e de ensaio resultou em um roteiro estruturado
em três planos, três camadas de linguagem - consciente, memória e delírio. O
consciente de Andrei (o aqui e agora) pinta a tela sob testemunho do público.
No plano da memória, Andrei vive diversos personagens e vai resgatando seu
drama. O plano do delírio discute o que é real do que é loucura - a questão da
sanidade, da alucinação, o artista sendo taxado de louco, o caos da criação.
Eros Impuro tem
figurino inspirado na obra de Arthur Bispo do Rosário - um parangolé, espécie
de manto usado pelo ator. O cenário reproduz uma tela em branco que vai sendo
pintada à medida que a iluminação traça seu desenho. A trilha sonora inclui
trechos de peças radiofônicas do ator e diretor francês Antonin Artaud. Também
há o recurso da projeção de vídeos caseiros, retratando casais em relações sexuais
e projeções de obras de artes eróticas. A companhia Criaturas Alaranjadas
nasceu em Brasília, em 2007, quando Sergio Maggio conheceu Jones de Abreu.
EROS IMPURO.
DIREÇÃO E
TEXTO – SÉRGIO MAGGIO. COM JONES
DE ABREU. PRODUÇÃO NATAL: DANIEL
TORRES (9638-8426). ILUMINAÇÃO: VINICIUS FERREIRA. TEMPORADA:
20, 21, 25 e 26 de junho de 2014, ÀS 20H30; 22 e 27 de junho, às 18h30 e às
20h30. NA CASA DA RIBEIRA (Rua Frei Miguelinho, 52, Ribeira, 3211-7710).
ENTRADA FRANCA. NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18
ANOS.
OBSERVAÇÕES: DEPOIS DAS SESSÕES, HAVERÁ O DEBATE A ARTE DIZ NÃO AO ABUSO SEXUAL CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
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