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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sala de ensaio

Hoje, havia a proposta de trabalharmos traços iniciais do personagem Tio, sua energia, seu movimento, sua pulsação em cena a partir da percepção do próprio intérprete. Foi pedido então que ele trouxesse elementos concretos (figurino, adereço, trilha, etc). Preso ao contexto do texto (dramaturgia), ele sentiu dificuldades de visualizá-lo, já que sua aparição é muito pequena e não havia ainda indicações de cenário. O que há por trás dele? Qual a história anterior que a dramaturgia não responde? Mas ao mesmo tempo detectou um forte dilema, uma dualidade do personagem. Nas duas cenas que ele aparece, Tio está em situações extremas. Uma compartilha com o público o seu maior segredo. Na outra, esconde, numa situação velada e excitante.
Nesse momento, defendi completamente o exercício de cena. Propus então a busca de estados de energia a partir de canções aleatórias executadas. Em cada uma, ele definia como esse personagem se comportaria. O exercício não fluiu como esperávamos a priori, porque havia pessoas passando do lado de fora do ensaio e houve uma autocensura, um bloqueio. O que fez com que o intérprete preferisse a volta a discussão do texto para conceituá-lo melhor.

O interessante é que, sem ele percebesse, acabou experimentando o dilema do personagem de se autoreprimir.

Como diretor, defendi a importância da cena para a gente borrar, contaminar, exaurir o texto que já apontou um universo que precisamos implodir. A proposta foi aceita e voltamos a cena com exercício que rendeu um primeiro interessante movimento.

No próximo encontro, ele trará uma proposta mais concreta para ser remexida.

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