



Leonardo Barreto*
No sábado à noite, saí extasiado do Teatro do SESI com a apresentação do monólogo Eros Impuro, uma peça de Brasília, que, para mim, foi uma das melhores que já passou pelo Festival de Teatro de Vitória. Fui assistir ao espetáculo porque não consegui ingresso para ver Hamelim, com Vladimir Britcha, e, quando estava ali diante do trabalho vigoroso do ator J. Abreu, cheguei a pensar "a gente não pode reclamar do destino". Vi Hamelim no dia seguinte, no domingo, e perto de Eros Impuro parecia uma montagem sem vida, sem pulsação. Engraçado, as duas tocam no mesmo tema: pedofilia.
Eros Impuro me deixou à flor da pele ao mostrar a loucura de um homem em pintar uma obsessão de menino. Aos poucos, o ator vai revelando face a face o seu estado de pertubação, que tem, na raiz, o abuso sexual quando criança. O uso de vídeos deu à montagem um requinte de cinema. Num desses vídeos, um menino animado, como se fosse pintado pelo personagem, chega para revelar para a plateia em choque, as razões de tanto devaneio.
Um texto poético que fala de sexualidade e de desejos permeia toda a cena e enche o cenário branco, realmente lindo, de cores dos vídeos, da luz, e do brilho próprio desse grande intérprete que Vitória desconhecia.
No final, o ator e o diretor, ambos emocionados, falaram para o público, que fez questão de permanecer em sua maioria, de como criaram o espetáculo. Mas duas coisas me chamaram a atenção: "a felicidade de ambos de estarem na nossa cidade'. J. contou que não conhecia a capital capixaba e estava apaixonado até pela nossa moqueca (risos gerais). Sérgio Maggio revelou que, para eles, era muito importante viajar com a peça e mostrar que Brasília vai além dos escândalos políticos. No final, receberam o troféu Carlos Gomes... Uma estatueta merecidíssima.
* Leonardo Barreto é formado em Letras e amante do teatro.
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